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Futuro do trabalho: a importância de um profissional cada vez mais humano

By 30 de agosto de 2021 Blog, Collab, Entrevista

O mercado de trabalho tem mudado de forma veloz e transformado o modo como as pessoas enxergam suas carreiras. Estamos vivendo uma Era mais tecnológica, robotizada e digital, e o que vai diferenciar as pessoas das máquinas são as capacidades humanas. Mais conhecidas como soft skills, esse conjunto de habilidade e competências estão relacionadas ao comportamento e traz para à luz qualidades como empatia, ética, liderança, capacidade de resolver conflitos, entre outras. Para conversar sobre essas novas habilidades e essa visão dos profissionais do futuro, a Mescla chamou Gustavo Vieira, o Gus, sócio da Livework São Paulo, primeira consultoria de Inovação e Design de Serviço do mundo. Gustavo também é facilitador de Workshops de Inovação, Design e Liderança e professor em cursos on-line, cursos livres e MBAs, onde aborda temas como Design Thinking, UX, Sprints de Design, Ferramentas de Ideação, Criatividade e Pesquisa de Design.

Gustavo Vieira – sócio Livework SP

O líder tem o papel de inspirar as pessoas a dar os passos, acolher as perspectivas, a humanidade de cada um, a maturidade de cada um, e assim inspirar para a mudança que ele acredita. Não a mudança dele enquanto indivíduo, até porque não tem um papel de herói nesse contexto, mas a mudança que é importante para o todo, para o bem maior.

1 – Olhando para o mundo atual, quais as habilidades que você enxerga que são necessárias para o profissional do futuro? 

Essa pergunta pra mim é muito interessante porque eu consigo ver dois caminhos, e entre eles um terceiro, que é híbrido.  Mas vamos lá, primeiro eu acho que tem um lugar muito técnico e funcional, digamos assim, que é o lugar da tecnologia, do digital. Eu acho que o mundo de hoje exige dos profissionais habilidades muito técnicas ligadas ao digital, à interface, à interação, à tecnologia, à programação. Essa é a primeira perspectiva, já que tudo está caminhando para isso. Mas ao mesmo tempo, todo esse processo de digitalização, de tecnologia e conectividade, vai exigir pessoas cada vez mais humanas. Então é como se, no contexto onde o técnico seja executável de maneira facilmente por máquinas, isso faz com que eu tenha necessidade de ser cada vez mais humano porque eu não vou precisar ser tão técnico em alguns contextos. E aí vem algumas habilidades muito humanas de inteligência emocional, de saber como lidar com as relações, inteligência relacional, social, criativa… são essas habilidades humanas que eu percebo que serão cada vez mais importantes, uma vez que as máquinas farão o que é mais técnico. 

2 – Nós viemos de uma geração moldada pelo que é tradicional, pelo linear. De forma prática, como a gente muda esse mindset? Como saber quais as habilidades que precisamos desenvolver? 

Acho que a pergunta “como a gente muda o mindset” já reflete um mindset tradicional, porque eu não considero que as coisas sejam sobre mudar esse mindset tradicional ou linear, eu acho que é sobre um processo de coexistência. Se a gente está falando de uma manifestação, de um momento do mundo de transição, a transição contempla a coexistência de diferentes realidades, da realidade linear, tradicional e de uma realidade mais complexa, mais caótica, orgânica. Se fossemos moldados apenas pelo pensamento tradicional, não teríamos o nível de maturidade de existência que temos hoje, mas também se fosse só orgânico, só o não-linear, não teríamos como manifestar dessa forma. Se eu mudar de uma hora para outra talvez isso gere um desequilíbrio no ecossistema. Então acho que o ponto é entender que é um processo onde as coisas vão coexistir por um determinado período de tempo. E esse tempo, muitas vezes, não é pequeno. Hoje, existem alguns processos, algumas empresas, comunicações, campanhas ou manifestações que estão desconstruindo algumas dessas verdades, dessas linearidades tradicionais, mas eu não acho que seja sobre não ter tradições, não ter coisas lineares, mas sim entender qual o valor disso para o nosso momento e entender como isso agrega valor para a gente continuar coexistindo, para que não seja uma ruptura não saudável, digamos assim. Eu vejo que tem pessoas que fazem essa transição, ou de maneira prática tentam criar outras realidades, mas acabam criando outros desequilíbrios também.

Eu não quero dar uma resposta pragmática, uma resposta linear para isso, mas eu acho que tem um processo de integração de cada pessoa. Cada pessoa olha para si mesmo, olha para o contexto onde está, seja ele linear ou orgânico, e assim entender que um pode contribuir com o outro de maneira construtiva. Eu acho que essa pergunta tem dois olhares, um olhar que é interno, de como eu, como ser humano ligado ao que eu quero ser e onde eu quero estar, quero desenvolver, ou seja, se eu quero estar em um mundo mais humano, se eu quero construir um mundo mais humano, quais as habilidades que eu quero trazer, como eu consigo olhar pra mim para olhar pra fora. E tem o viés que é de fora pra dentro, que são quais as habilidades que o mundo precisa para evoluir para um caminho mais saudável, para um caminho mais construtivo. Eu não sei se as respostas seriam as mesmas, mas acho que tem um processo de cada um aí, é quase um processo individual de muito estudo interno, porque o precisar desenvolver não necessariamente tem a ver com o contexto, tem a ver com a necessidade de cada um.

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3 –  No contexto Brasil, o que as empresas precisam estar atentas para sobreviver a esses novos tempos?

Eu acho que tem um viés aí que é o do nível de maturidade e de construção de cada empresa. O que eu quero dizer com isso: que tipo de público que essa empresa atende e como ela está estruturada internamente ou quais são os processos, quais os contextos? Eu acho que uma empresa que está com problema de caixa ou problema de gestão, para ela sobreviver vai precisar olhar pra dentro, entender suas fraquezas, suas fortalezas, entender sua gestão, seu momento financeiro. É muito contextual, não existe uma história pronta para todas as empresas, não tem um tamanho que serve para todas. Então, acho que além do contexto Brasil tem o contexto regional, local, pessoal, do empreendedor que está por trás dessa empresa e que talvez precise de algum tipo de ajuda. Existe a estrutura da empresa que às vezes não favorece algum tipo de questão, então um ponto que a empresa precisa levar em consideração é que ela precisa estar muito atenta a sua parte interna, como ela está estruturada, como é que são os custos. Isso é questão de sobrevivência. Acho que também tem o viés de olhar para o cliente dela, o que o cliente precisa, quais os movimentos comportamentais que esse cliente está adotando, quais as questões que eles estão adotando para se conectar com essa empresa, quais as necessidades que essa empresa está criando para esse cliente? Também acredito que tem uma questão que é de futuro, onde essa empresa quer estar, porque sobrevivência não é só a sobrevivência em si, mas um processo de evolução, de construção. 

Acho que a empresa tem que estar muito atenta para o seu mundo interno, e aqui falo de gestão, do processo mais interno do quanto ela entrega, do quanto ela recebe, como está esse fluxo, se está saudável, se ela está sobrevivendo nesse aspecto; e tem o olhar externo, que é olhar para o cliente, o que o cliente precisa. Além disso, tem o olhar de movimento, que é o olhar de onde ela quer estar, o olhar de perspectiva. Ela tem que estar presente digitalmente, ela tem que entregar valor ao cliente dela, ela tem que ter uma gestão saudável de recursos. 

4 – Se você pudesse fazer uma lista com três habilidades que as pessoas que vão liderar times no futuro vão precisar, quais seriam?

Duas de cara seriam: pensamento sistêmico e entendimento de contexto. O que eu quero dizer com isso é que, se a pessoa vai liderar uma empresa ou ser representante de um negócio, ela tem que entender com muita clareza qual o contexto que a empresa está inserida, qual o nível de maturidade que a empresa tem, até para que ela consiga propor ações e inspirar as pessoas de maneira correta sobre os próximos passos que a empresa tem que dar. Isso é um ponto muito importante,

E uma outra habilidade é a inteligência relacional e emocional, acho que uma está muito ligada à outra, porque para eu conseguir me relacionar com as pessoas eu preciso me relacionar comigo mesmo, e isso significa olhar para dentro e entender como as ações afetam minhas reações e como essas relações afetam o ambiente. Entender que eu não preciso reagir, eu não posso reagir. Que meu papel como líder é responder e entender sobre o contexto que está aparecendo ali. 

Além disso, dando um bônus aqui, acho que tem um papel de mediação de conflito e inspiração, que são habilidades muito importantes hoje. O líder tem o papel de inspirar as pessoas a dar os passos, acolher as perspectivas, a humanidade de cada um, a maturidade de cada um, e assim inspirar para a mudança que ele acredita. Não a mudança dele enquanto indivíduo, até porque não tem um papel de herói nesse contexto, mas a mudança que é importante para o todo, para o bem maior.