Deepfake é uma técnica que combina duas tecnologias de ponta, inteligência artificial e aprendizado profundo (deep learning), para criar vídeos ou áudios que nunca existiram, ou seja, conteúdos realistas de pessoas dizendo e fazendo coisas que na verdade nunca disseram ou fizeram. A técnica está se popularizando pelo mundo, e de acordo com a startup Deeptrace, o número de deepfakes na web aumentou 330% de outubro de 2019 a junho de 2020, atingindo mais de 50.000 em seu pico. Atualmente, a técnica está sendo bastante explorada pela indústria do entretenimento e é dela que vamos conhecer algumas inovações agora.
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Deepfake nos cinemas
O primeiro exemplo vem de um filme lançado recentemente nos cinemas brasileiros. ‘Reminiscene‘, ‘Caminhos da Memória’ em português, é estrelado por Hugh Jackman e se passa num futuro distópico onde Jackman ajuda pessoas a acessarem as memórias perdidas do passado. Mas a inovação veio mesmo na campanha de lançamento do filme, quando o estúdio Warner Brothers fez parceria com a empresa israelense de Inteligência Artificial D-ID para desenvolver um gerador de deepfake que permite qualquer pessoa se inserir no trailer do longa.
Para experimentar, basta acessar o site oficial do filme e fazer upload de uma foto do rosto. Em segundos, o gerador produzirá o trailer original, criando uma sequência em que a pessoa é inserida inclusive movimentando seu rosto. No site a pessoa também pode baixar o trailer que ele participa e ainda comprar ingressos para o cinema.
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Mas essa não foi a primeira vez que a D-ID produziu um gerador de deepfake para grandes marcas. Também este ano, a empresa lançou um serviço chamado ‘Deep Nostalgia‘ em colaboração com a plataforma que ajuda as pessoas a fazerem árvores genealógicas, MyHeritage. A ferramenta permite que os usuários deem vida às fotos de seus parentes falecidos. Segundo a plataforma, cinco semanas após o lançamento de Deep Nostalgia, 72 milhões de fotos foram animadas pelo programa. O novo projeto da D-ID é colaborar com museus para fazer filmes falsos de artistas discutindo seu trabalho.
Diferentes usos
O deepfake também foi utilizado em uma campanha publicitária contra malária estrelada pelo jogador de futebol inglês David Beckham. O vídeo mostra ele “falando” nove idiomas diferentes. A tecnologia de deepfake permitiu que os lábios de Beckham se movessem em sincronia exata com o idioma que está sendo falado, embora ele realmente não fale todas aquelas línguas. Já o documentário recém-lançado Roadrunner, sobre o jornalista e chef de cozinha Anthony Bourdain, que morreu em 2018, chamou muita atenção quando o diretor, Morgan Neville, confirmou que utilizou o deepfake para criar um modelo da voz de Bourdain por 45 segundos de narração do documentário. Essa ação levantou polêmica nos Estados Unidos porque algumas pessoas acharam que o diretor ultrapassou limites éticos.
E por falar em voz, a TV sul-coreana, em seu programa “Competição do Século: IA vs Humanos” utilizou a técnica do deepfake para trazer a voz de Freddie Mercury cantando uma música na língua local. Além dele, o programa também trouxe de volta a voz de um astro coreano, que morreu em 1996, cantando músicas atuais de outros artistas. A produção deixou muita gente impressionada com a capacidade da tecnologia.
Aqui no Brasil, o mais famoso produtor de conteúdo que utiliza as técnicas do deepfake é o jornalista Bruno Sartori. As contas dele nas redes sociais estão recheadas de materiais que mostram diversas possibilidades de criar vídeos que nunca existiram com pessoas reais. São paródias com políticos e celebridades brasileiras que divertem, mas também assustam com a perfeição.
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O avanço dessa tecnologia é importante e ela está cada vez mais acessível. Inclusive, já existem aplicativos onde qualquer pessoa pode criar um deepfake no celular, e as possibilidades que a técnica abre para a indústria do entretenimento são gigantescas. Mas é preciso discutir as questões éticas desse avanço todo. Já imaginou o quanto de desinformação e prejuízo que o deepfake pode trazer? Se hoje já é difícil minimizar os impactos das fake news e dos golpes cibernéticos, imagina com esta tecnologia cada vez mais aprimorada e acessível? Ainda tem muita coisa para refletir!
*Imagem em destaque disponível em Tecmundo