Voltamos com a série da Mescla Pense como um (a) Futurista! Após detalharmos sobre a cultura e o espírito do tempo, vamos olhar um pouco para as gerações e a pós-demografia.
A importância de conhecer as diferentes gerações para as marcas e negócios
Pela primeira vez na história, estamos vivendo um momento em que sete gerações coexistem, um fato impulsionado pelo aumento contínuo da expectativa de vida. Esse fenômeno reflete os avanços na saúde e na qualidade de vida, permitindo que várias faixas etárias compartilhem experiências e influenciam a sociedade ao mesmo tempo. Quanto mais gerações, mais diversidade, e ao mesmo tempo chegam as diferenças. E a pergunta é: quem são e como se conectar com cada uma delas?
O comportamento humano é moldado por uma série de fatores, incluindo o contexto histórico, social e econômico em que uma pessoa cresce. Isso cria grupos geracionais, onde indivíduos compartilham valores, expectativas e comportamentos semelhantes, influenciados pelos eventos que viveram. Compreender essas diferenças é essencial como estratégia empresarial, permitindo que marcas e empresas antecipem mudanças de comportamento e se posicionem de forma mais assertiva no mercado.
O conceito de gerações, como usamos hoje, foi formalizado por dois estudiosos: Karl Mannheim, sociólogo alemão, e os historiadores William Strauss e Neil Howe. Karl Mannheim introduziu a ideia de que diferentes gerações são moldadas por eventos históricos e sociais durante a juventude, quando as pessoas são mais influenciadas por mudanças culturais e políticas. Essa teoria foi apresentada em seu ensaio “O Problema das Gerações” em 1928, no qual ele argumentou que a experiência compartilhada de eventos cruciais forma as identidades de uma geração.
Mais tarde, William Strauss e Neil Howe expandiram esse conceito nos anos 1990, em seus estudos sobre ciclos geracionais nos Estados Unidos. Eles propuseram que cada geração segue padrões cíclicos e que suas atitudes e comportamentos são respostas a eventos históricos. Strauss e Howe popularizaram termos como Geração X, Millennials (Geração Y), e Geração Z, criando um modelo que liga gerações a padrões repetidos de crises e renovações sociais.
As diferentes gerações
Pode existir uma variação sobre o recorte de ano de início e o fim de uma geração de autor para autor.
1- A Silent Generation (1928 e 1945)
Moldada por eventos como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, desenvolveu uma forte ética de trabalho, resiliência e frugalidade. Crescer em um período de escassez e incertezas os levou a valorizar a estabilidade e a segurança, adotando uma postura mais conformista e introspectiva. Essa geração internalizou emoções e evitou confrontos abertos, preferindo seguir normas sociais e desempenhar papéis tradicionais de gênero, o que lhes rendeu o nome silenciosa. Embora não fossem ativistas, contribuíram para o crescimento econômico e avanços tecnológicos do pós-guerra. Socialmente, priorizavam a família, o trabalho e o respeito às hierarquias, sendo conhecidos por seu senso de dever e lealdade.
2- Baby Boomers (1946-1964)
Crescidos em um período de recuperação econômica pós-guerra, os Baby Boomers foram testemunhas do surgimento da televisão e do crescimento do consumo de massa. São, em geral, associados a valores de estabilidade e trabalho duro, além de serem consumidores fiéis às marcas. Sua relação com a tecnologia pode ser mais conservadora, mas sua busca por segurança e estabilidade os torna um público relevante para mercados como saúde e turismo.
3- Geração X (1965-1980)
A Geração X cresceu em um mundo em transição, com o aumento do divórcio, o surgimento de computadores pessoais e o início da globalização. São conhecidos por sua independência e pragmatismo. São digitalmente competentes, embora tenham vivido um período pré-internet. Para essa geração, qualidade e valor são mais importantes do que a tendência ou a marca, tornando-os consumidores críticos e informados.
4- Millennials ou Geração Y (1981-1996)
Testemunhas da explosão da internet e da digitalização de praticamente todos os aspectos da vida, os Millennials valorizam a conveniência, experiências autênticas e a inovação. Esta geração busca por propósito nas suas escolhas de consumo e é mais inclinada a adotar comportamentos sustentáveis e éticos. A geração Millennial impulsionou o crescimento das redes sociais e está redefinindo o que significa lealdade à marca, buscando engajamento e conexão emocional.
5- Geração Z (1997-2010)
A Geração Z é a primeira geração totalmente digital. Nascidos na era dos smartphones, são altamente visuais, com uma propensão para plataformas de vídeo e redes sociais interativas como TikTok e Instagram. Valorizam a diversidade, inclusão e autenticidade. Essa geração cresce em um cenário econômico incerto, o que pode influenciar seus hábitos de consumo, sendo mais cuidadosos com finanças, mas também mais abertos a experimentar novas tecnologias e a abraçar causas sociais.
6- Geração Alfa (a partir de 2010)
A Geração Alfa está crescendo em um mundo totalmente conectado e dominado por inteligências artificiais e realidade aumentada. Ainda em formação, esta geração será marcada pela hiperconectividade e pelos avanços tecnológicos que moldam suas interações com o mundo desde a infância. As tendências que surgem entre essa geração serão fortemente influenciadas por um ambiente de interatividade constante e pela expectativa de experiências imersivas.
7- Geração Beta (em processamento…)
Por que entender gerações é importante para as marcas?
Cada geração tem suas peculiaridades, valores, comportamentos e atitudes. Para criar estratégias assertivas para diferentes gerações é essencial identificar padrões de comportamento e prever mudanças futuras. Através do estudo geracional, as marcas podem:
1- Antecipar mudanças de comportamento
Cada geração traz consigo novas expectativas em relação a produtos, serviços e experiências. Estudar essas mudanças permite que as empresas se adaptem e inovem antes da concorrência.
2- Desenvolver comunicação mais eficaz
Ao entender as preferências de comunicação de cada geração, marcas podem criar campanhas que ressoam diretamente com o público-alvo. Enquanto os Baby Boomers podem preferir campanhas mais tradicionais, os Millennials e a Geração Z esperam autenticidade e interatividade nas mídias digitais.
3- Capturar o espírito do tempo (zeitgeist)
O espírito do tempo reflete os valores e crenças dominantes de uma época. Gerações mais jovens tendem a ser pioneiras na adoção de novos valores, como sustentabilidade e diversidade, que, com o tempo, permeiam toda a sociedade. Estar atento a essas mudanças é fundamental para criar estratégias de longo prazo que estejam alinhadas com o zeitgeist.
4- Inovar com propósito
As gerações mais jovens, especialmente Millennials e Geração Z, têm expectativas mais altas em relação ao impacto social e ambiental das marcas. Estar alinhado com seus valores e oferecer soluções que reflitam suas preocupações pode gerar vantagem competitiva e lealdade.
Também vale ressaltar que marcas longevas são aquelas que sabem formar novos públicos e se reinventar a cada geração. Por isso, é importante ter atenção às diferentes gerações, suas identidades, valores e símbolos e perceber os elementos que elas têm em comum e perpassam a ideia de tempo.
A era pós-demográfica
Embora categorizar gerações seja uma forma útil de entender grandes padrões comportamentais, é crucial perceber que estamos vivendo na era pós-demográfica. O que isso significa? Embora as gerações ofereçam uma visão valiosa, focar exclusivamente em características como idade e classe social pode limitar sua visão sobre o público.
Muitas vezes quando alguém está falando sobre o próprio negócio e seu “público-alvo”, geralmente é comum respostas altamente generalistas como por exemplo: mulheres de 30 a 40 anos da classe A ou B. Claro, dados demográficos são importantes, mas a era pós-demográfica nos mostra que idade, local, gênero e renda não definem mais, sozinhos, quem somos ou como nos comportamos.
Hoje, comportamentos e preferências são influenciados por fatores mais sutis, como acesso, contexto, liberdade, capacidade e desejo. Isso significa que, ao invés de restringir a análise ao quem, é essencial explorar o porquê e o como de comportamentos e motivações. As pessoas não são mais definidas unicamente pela sua faixa etária, mas por suas experiências, valores e acesso a diferentes contextos.nbsp;
Não adaptar-se a essa realidade pós-demográfica pode levar a uma visão limitada do seu público e, consequentemente, a oportunidades perdidas. Por isso, é fundamental que, além de entender as gerações, as empresas ampliem seu olhar para o comportamento humano em um nível mais holístico, considerando essas novas nuances que influenciam as escolhas e os desejos de consumo.
Portanto, compreender as gerações e padrões comportamentais não é apenas uma questão de mapear o passado, mas de antecipar o futuro. A verdadeira pergunta é: sua marca está pronta para se adaptar às mudanças que virão, ou será deixada para trás?
Renata Mendonça
Sócia-fundadora da Mescla.
Buscadora, curiosa, em movimento.