Um relatório da ONG Avaaz apontou o Facebook como o epicentro da desinformação sobre o novo coronavírus. Segundo o estudo, feito em abril deste ano, cem mensagens falsas do Facebook foram replicadas 1,7 milhão de vezes e tiveram 117 milhões de visualizações em 6 idiomas analisados. É um poder de disseminação grandioso que foi exposto nas eleições americanas de 2016, mas, apesar das cobranças, as ações de repressão às fake news por parte das empresas de Mark Zuckerberg ainda eram muito tímidas. Foi só após a onda de desinformação generalizada em escala mundial, causada pela pandemia do novo coronavírus, que estas empresas decidiram acelerar a implantação de algumas inovações visando diminuir o impacto das notícias falsas espalhadas pelo mundo. Vamos a elas:
FACEBOOK – A plataforma anunciou a aplicação de uma nova ferramenta para evitar o compartilhamento de informações falsas sobre o coronavírus. Esta ferramenta vai funcionar com um sistema de avisos que notificará toda vez que um usuário interagir em postagens com boatos sobre a pandemia, ao mesmo tempo que conecta as pessoas com informações checadas pela Organização Mundial da Saúde, e uma listagem de informações falsas.
INSTAGRAM – As medidas anunciadas no final de março incluem a remoção da seção de perfis recomendados aqueles que forem relacionados à Covid-19 e também a exclusão de alguns conteúdos que tratem da doença na aba “Explorar”, a menos que sejam de organizações de saúde confiáveis. Além disso, qualquer busca pelos termos “coronavírus” ou “Covid-19” vai resultar em uma mensagem educacional, com conexão à informações da Organização Mundial da Saúde e de ministérios da saúde do país onde aquela busca foi feita. Recentemente, a rede social chegou a ocultar uma publicação sobre a doença, feita no stories, que foi tida como falsa e ainda indicou o link para checagem da informação.
WHATSAPP – A plataforma limitou ainda mais a possibilidade de encaminhar mensagens em massa dentro do aplicativo. Agora, uma mensagem recebida por meio de encaminhamento só pode ser reencaminhada para uma única conversa por vez — o limite anterior era de cinco, que, segundo a empresa, já havia diminuído em 25% o número de mensagens encaminhadas em todo o mundo. Mesmo assim, esta medida ainda não está sendo suficiente para combater a desinformação.
GOOGLE/ YOUTUBE – Disponibilizou um alerta SOS para o coronavírus em parceria com a OMS para garantir que informações de credibilidade sejam priorizadas na busca. No Brasil, exibe as notícias relacionadas ao tema publicadas pelos principais portais do país, além de páginas da Secretaria de Saúde Estadual e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entre os primeiros resultados.
TWITTER – A busca por hashtags relacionadas ao coronavírus direciona para entidades governamentais que contam com informações oficiais. No Brasil, quem buscar sobre o tema passa a ver, no topo do microblog, um link para um artigo no site do Ministério da Saúde explicando os principais fatos sobre o vírus. Além disso, o Twitter passou a excluir tweets de pessoas que “atentaram contra a saúde pública”.
Além das redes sociais, o Ministério da Saúde também inovou no combate à disseminação de informações falsas, ao usar um sistema de bot no Whatsapp para, entre outras coisas, desmentir alguns boatos sobre o coronavírus que circulam pela plataforma de mensagens instantâneas.
Além disso, tem o trabalho das agências de checagem que cada vez mais se mostram relevantes, principalmente quando trabalham em conjunto com estas plataformas tão poderosas. Todas as medidas podem ser consideradas o pontapé inicial para o desenvolvimento de novos mecanismos tão necessários para combater a disseminação de desinformação.
Sobre a responsabilidade com a informação
Um outro lado positivo da crise, além do aceleramento das inovações, é que o jornalismo profissional está tendo a chance de recuperar seu papel de relevância na sociedade atual. Uma crise global por causa do surgimento de uma nova doença, onde a incerteza é o sentimento dominante, faz com que grande parte das pessoas queiram ter segurança na informação que estão acessando. E é aí que jornalistas e empresas de comunicação devem intensificar suas atividades para reaver o relacionamento de confiança com a população. É um trabalho de reconstrução, mas já podem ser visto em algumas ações.
No dia 23 de março, por exemplo, os principais jornais impressos do país trouxeram a mesma capa com a mensagem “Juntos vamos derrotar o vírus – unidos pela informação e pela responsabilidade”. Esta ação já estava acontecendo em outras partes do mundo e aqui no Brasil foi desenvolvida pela Associação Nacional dos Jornais, que defende o jornalismo profissional como o melhor antídoto contra a desinformação.
Houve também alguns outros movimentos como: aumentar as horas de produção jornalística, mudar linhas editoriais que eram tradicionalmente intocáveis e a abertura do acesso aos conteúdos sobre a pandemia por parte dos grandes portais de notícias, que disponibilizaram informações gratuitas aos leitores/ usuários/ telespectadores nesse momento de incerteza.
A estratégia agora para jornalistas e veículos pode até ser um clichê de campanha publicitária, mas é mais urgente que nunca: ampliar a produção jornalística, manter o compromisso com a ética da profissão e dar transparência na linha editorial.