O número assustador de mortes causados pela a pandemia da Covid – 19 em todo mundo, em um curto espaço de tempo, tem obrigado a todos a lidar com a dor da perda de forma muito crua. Não é difícil conhecer uma pessoa que está entre as cerca 140 mil pessoas que morreram no Brasil por causa do coronavírus. Há famílias, inclusive, que perderam mais de uma pessoa nesta pandemia! Por isso, o gerenciamento do luto está sendo incorporado como um componente importante nos cuidados da saúde em geral.
Neste contexto, práticas de bem-estar estão trazendo algumas inovações focadas na terapia do luto. É o caso do estúdio americano HealHaus, que realiza workshop de respiração para o luto. A proposta é ajudar as pessoas a passar por este “momento de trauma e de luto coletivo”. Já a professora de ioga, também americana, Michelle Johnson, incorporou o trabalho do luto em seu retiro on-line chamado Healing in Community: A Space for Collective Lief and Liberation. O objetivo é “oferecer um lugar para honrar o luto”, essa prática está disponível em uma playlist no YouTube.
E as inovações não param por aí. A Wild Grief trabalha a cura do luto através do contato com a natureza, com programas que levam jovens em caminhadas por trilhas para proporcionar uma experiência de conexão, apoio e desafio para ajudá-los a se curar a dor da perda. Já a plataforma on-line Modern Loss foi criada como um lugar para as pessoas “compartilharem suas várias histórias de perda e testemunharem a dor dos outros”. Os fundadores acreditam que ouvir histórias é uma boa forma de lidar com luto.
Já no Brasil, algumas iniciativas também estão trabalhando a superação do luto, principalmente com a pandemia da Covid-19, quando os formatos de velórios e sepultamentos estão alterados. A falta destes rituais de passagem prejudica o processo de compreensão da morte. É o caso do “Quatro Estações Instituto de Psicologia“, que já trabalha o suporte psicológico a indivíduos ou grupos que sofrem processos complicados de luto, e que recentemente desenvolveu serviços específicos para casos relacionados à Covid-19. Outra iniciativa brasileira é a plataforma Guia de Rituais Virtuais, que realiza missas, velórios, homenagens póstumas e rituais de despedidas de forma on-line.
Muito já se ouvir falar das cinco fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, que foram mapeadas pela a psicóloga Elisabeth Kubler-Ross, e podem ser aplicados para qualquer experiência de perda, até as não relacionadas a morte em si. Passar por essas fases é importante para a superação do processo do luto. Renata Mendonça, pesquisadora da Mescla, por exemplo, relatou uma das suas experiências de passagem por essas fases do luto na edição do ano passado do TEDx Pajuçara, quando foi uma das palestrantes e falou como a descoberta de um problema de saúde mudou o seu planejamento de vida e a levou para o mundo da pesquisa de tendências.
A provocação que fica aos profissionais de saúde mental e bem-estar é: Que tipo de soluções dá para oferecer focadas na terapia do luto? Muita gente não cumpriu os rituais de passagem tão necessários para superar a perda. Como dá para ajudar essas pessoas? A pandemia trouxe necessidades urgentes que precisam ser trabalhadas, então é importante está atento a este mercado emergente.