Tabu para alguns, negócio ascendente para outros. O mercado global de cannabis mobiliza uma economia bilionária em várias partes do mundo e contribui com o avanço de descobertas científicas importantes. Só em 2018, esta indústria movimentou U$ 18 bilhões e, segundo um levantamento do Banco de Montreal, chegará a U$ 194 bilhões até 2026.
Atualmente, 40 países no mundo regulamentaram a cannabis para fins medicinais, mas a indústria é mais que remédios, ela já utiliza a erva para produtos de beleza e bem-estar, além do uso recreativo, permitido por lei em cinco países do mundo. Diante de um mercado potencial desse, há inovações surgindo em várias frentes.
Israel, primeiro país do mundo a regulamentar o uso da cannabis para tratamento médico, é um importante centro de pesquisa e desenvolvimento. Algumas empresas estão indo além da pílula, do óleo e da erva propriamente dita, e estão criando outras variações, como é o caso da Cannova Medical. A empresa produziu uma espécie de pastilhas sublinguais de cannabis que são absorvidas pelo organismo em no máximo 15 minutos e são indicadas tanto para diminuir a ansiedade e a dor, quanto para melhorar o sono e o foco, tudo depende da dosagem. Um outro centro de pesquisa, chamado Tikun, também no país, oferece variedade de cannabis que ajudam no tratamento de artrite e até no desenvolvimento de pessoas com autismo.
Outro exemplo é o Canadá, que está se tornando o maior país do mundo com um programa nacional de legalização da cannabis. Além de investir em cultivo, pois tem áreas bem propícias, o país conta com centros de estudos, como a MedRealaf, que licencia e também fabrica produtos derivados da erva; tem negócios como a Peace Naturals, que fabrica e vende produtos de saúde e bem-estar, com diferentes dosagens dos dois princípios ativos da cannabis (CBD e THC); e a Lord Jones, que fornece uma série de produtos de beleza e higiene.
Já numa pegada mais tecnológica, a Bloom Automation, desenvolveu robôs que usam visão computacional e aprendizado de máquina para aparar a plantação de cannabis, três vezes mais rápido do que o homem. O Seedo, tem um dispositivo hidropônico automático que cultiva cannabis medicinal para uso doméstico sem qualquer intervenção humana ou conhecimento agrícola. Já a Ardent, fornece um dispositivo portátil que dá a possibilidade da pessoa fazer em casa o processo de descarboxilação da erva. É através deste processo que o paciente consegue ter acesso ao princípio ativo na dosagem específica indicada pelo médico. Todas estas empresas são americanas, e têm sede em Estados onde o cultivo e consumo de cannabis, medicinal ou recreativo, são liberados.
Já aqui no Brasil, a Anvisa regulamentou a comercialização da cannabis medicinal no final de 2019. Atualmente, os produtos a base da erva podem ser vendidos em farmácia com prescrição médica, mas o cultivo da planta em território nacional continua proibido. O que dificulta e encarece o acesso às substâncias CBD e THC, que podem ser usadas para tratamento de doenças como epilepsia, mal de Parkinson, esclerose múltipla, esquizofrenia, síndrome de Tourette, asma, bem como glaucoma e dores crônicas.
Para buscar alternativas de ter acesso aos princípios ativos da cannabis sem precisar importar, algumas pessoas conseguiram na justiça a autorização para cultivá-la em casa com fins medicinais, e, no mês passado, a justiça federal do Rio de Janeiro autorizou a Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis (Apepi) a plantar cannabis, realizar pesquisas e fornecer medicamentos para os pacientes associados.
Mesmo com a legislação restrita, o Brasil também tem inovações nesta área. É o caso da Dr. Cannabis, plataforma que conecta pacientes interessados em saber mais sobre os tratamentos com a erva, a médicos que já aplicam protocolos com Cannabis. Já o site Linha Canábica, oferece produtos à base de óleo de cannabis, que podem atuar como um antioxidante, anti-inflamatório, antialérgico, e também na regeneração celular. O negócio ainda disponibiliza um aplicativo para que o paciente tenha um acompanhamento da rotina do tratamento.
A discussão ainda é um tabu para muitos brasileiros, mas é importante observar os avanços da ciência, dos tratamentos de saúde nesta área, e do potencial de negócios que o mercado da cannabis tem, inclusive além da medicina.