No começo da pandemia do coronavírus foi possível observar um novo comportamento e posicionamento de algumas marcas. As marcas ativistas e as marcas com causa, são aquelas que estão assumindo posições sobre determinados temas, inclusive, em respostas aos anseios de muitos consumidores. Mas agora o movimento se ampliou e incluiu celebridades e esportistas, que passaram não só a defender causas, como também a mobilizar ações que possam influenciar politicamente nas decisões dos representantes eleitos. Se há bem pouco tempo havia um distanciamento da pauta política, hoje eles usam sua visibilidade para jogar luz em temas como racismo, homofobia e combate às desigualdades sociais.
Os sinais desta mudança de comportamento podem ser vistos em várias ações. Em junho de 2020, por exemplo, uma campanha nas redes sociais liderada pelo atacante do Manchester United, Marcus Rashford, conseguiu fazer com que o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, mudasse a decisão e voltasse a fornecer vale-refeição escolar grátis para crianças pobres durante as férias de verão. Além disso, o atleta lançou uma Força-Tarefa contra a Pobreza Alimentar Infantil, apoiada por grandes marcas, e fez uma petição ao governo para uma série de medidas para combater a pobreza alimentar na Grã-Bretanha.
Outros atletas também usaram sua visibilidade para tomar posições políticas apoiando o movimento Black Lives Matter. Foi o caso da tenista Naomi Osaka, que aproveitou sua campanha de sucesso no Aberto dos Estados Unidos para usar uma série de máscaras faciais com nomes de negros mortos nas mãos de policiais. Já o piloto de Fórmula 1, Lewis Hamilton, usou toda sua visibilidade durante as corridas para pedir a prisão dos assassinos de Breonna Taylor, uma mulher negra americana assassinada por policiais dentro de casa. Além disso, em agosto deste ano, os jogadores da NBA fizeram greve contra o tratamento dado aos negros pela polícia. O movimento, nunca visto antes, foi acompanhado pelos jogadores da WNBA, tênis e futebol.
Entre atores e cantores, há um mudança de comportamento similar. Há duas semanas da eleição americana, a cantora pop Demi Lovato virou notícia ao lançar uma nova música criticando o presidente Donald Trump. Classificada pela crítica de “balada política”, a canção causou polêmica e fez com que ela afirmasse que o papel das celebridades não era apenas entreter. Já o ator Chris Evans, conhecido em seu papel como Capitão América, foi além e criou uma plataforma de engajamento cívico bipartidário chamada “A Starting Point“. Um canal de comunicação e conectividade entre os americanos e suas autoridades eleitas, que tem o objetivo de criar um eleitorado mais informado.
Podemos citar ainda toda a mobilização que atores de Hollywood fizeram em torno de uma plataforma apartidária, chamada “I am a voter” que buscou mobilizar os americanos para que eles fossem votar. Nas redes sociais, as atrizes do famoso seriado Friends se uniram à plataforma para incentivar o engajamento cívico.
Também é possível ver algumas mudanças no Brasil, como a cantora Anitta pressionando e mudando o voto dos parlamentares em relação às legislações ambientais, ou a jogadora Marta levantando a pauta de igualdade salarial entre homens e mulheres e conseguindo fazer com que a CBF equiparasse às premiações do feminino a do masculino. Já o youtuber Felipe Neto, partiu em um viés mais partidário e fez um vídeo de opinião no qual explicava porque o resultado das eleições nos EUA afetaria de forma direta o Brasil. O vídeo foi originalmente publicado pelo The New York Times, um dos mais respeitados veículos de imprensa do mundo. Ainda tiveram casos de atletas do vôlei que, em momento diferentes, se manifestaram contra e a favor do presidente brasileiro. Mesmo assim, a maior parte da movimentação local ainda vem no reflexo dos movimentos capitaneados pelos Estados Unidos ou Europa.
O que é importante observar é que há uma mudança cultural em curso e quanto mais esses atletas e celebridades perceberem que eles têm voz que podem realmente mudar os rumos do debate público e, consequentemente, da política, mais ele irão transformar a sociedade. Alguns estudiosos já classificam esse movimento como a contra-tendência da tão falada cultura do cancelamento.
*Foto destacada: National Review