A pandemia de COVID-19 tem modificado comportamentos e realidades, acelerando inovações, agora no âmbito alimentar. Isso tem impactado na forma como as pessoas pensam, compram, se relacionam e preparam os seus alimentos – a chamada revolução da comida de verdade.
Nesse sentido, há um tempo que duas tendências estão emergindo pouco a pouco, e ganhando espaço no cotidiano das pessoas. A primeira é a “cultura maker”, que é literalmente colocar a mão na massa. Essa tendência pode ser percebida no crescimento de programas, canais e realities de culinária e de “faça você mesmo”.
Já a segunda é “naturalidade”, que é o desejo de produtos sustentáveis, incluindo ingredientes locais e orgânicos. No Reino Unido, por exemplo, a pesquisa da YouGov (2020) descobriu que, desde o início da pandemia, 3 milhões de pessoas passaram a consumir produtos diretamente de uma fazenda pela primeira vez. Movimentos semelhantes aconteceram na Alemanha e na França.
A junção destas duas tendências (maker e naturalidade) com a quarentena acelerou a busca por uma alimentação mais saudável e natural, inclusive levando muitas pessoas de volta à cozinha. O isolamento ampliou ainda a necessidade por “comida conforto”, que nesse ambiente está se tornando um meio de baixar a ansiedade.
Isso pode ser percebido nos números. Segundo o YouTube, os vídeos da plataforma com receitas dobraram as visualizações durante a quarentena. A média diárias de views foi de mais do que o dobro nas duas primeiras semanas de março, em comparação ao mesmo período em 2019. O termo “cozinhe comigo” foi um dos principais responsáveis por alavancar essa audiência.
A necessidade de grande parte das pessoas impulsionou algumas inovações voltadas para a alimentação natural e orgânica. Um exemplo é a plataforma Mapa das Feiras Orgânicas, que criou um serviço especial neste período chamado “Comida de Verdade”. Uma aba no site da plataforma mostra estabelecimentos que estão vendendo e entregando comida saudável na casa dos clientes. O serviço está sempre trazendo novos lugares de todas as regiões do Brasil.
Empresas como a Balaio Orgânico também viram a demanda por seus produtos crescer de uma hora para outra, pegando muitos produtores de surpresa. A média de entrega semanal era de 35 a 40 cestas de alimentos antes da pandemia, depois este número subiu para uma média de 120 a 140.
Outra inovação que está ganhando mercado são as caixas de assinaturas de produtos orgânicos. A Horta na Cesta faz a assinatura para entregas de frutas e verduras orgânicas em São Paulo e em algumas cidades do interior. A Orgânicos In Box é outro exemplo, baseada no Rio de Janeiro, a empresa tem variedade de tamanhos e preços de caixas de assinatura. Ainda dá a possibilidade de montar sua própria caixa e decidir a frequência que deseja recebê-las.
Já a Fruta Imperfeita, de São Paulo, tem um diferencial ainda maior. Além da assinatura, da variedade de tamanhos das caixas e da escolha dos alimentos que o consumidor gostaria de receber, ela trabalha com frutas e vegetais com formatos não convencionais e disformes, que seriam descartados pelas suas imperfeições. Com isso, combate o desperdício e incentiva o retorno das caixas para não gerar lixo.
Em Maceió existe a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), que funciona como uma troca. Os produtores calculam o valor anual da produção e rateiam com quem deseja participar da CSA com cotas mensais. Semanalmente as pessoas recebem uma cesta com os alimentos que foram cultivados com a ajuda da sua mensalidade. Essa também é uma forma de inovação que se encaixa na necessidade do consumidor atual.
Portanto, a revolução da comida de verdade é uma tendência que pretende se intensificar ainda mais, conscientizando pessoas a escolherem melhor os seus alimentos e o que estão comendo. Além de promover a descoberta do prazer de cozinhar, reconectando pessoas com os alimentos, para que compreendam que uma vida mais longa e saudável depende de novos hábitos.
*A imagem destacada desse texto foi retirada do site Fruta Imperfeita