O movimento de grandes marcas do mundo fashion demonstra que há uma necessidade de diminuir o ritmo e pensar em alternativas mais sustentáveis para este mercado. A era das “fast fashion” parece estar chegando ao fim.
A indústria da moda é mais uma que foi profundamente impactada por causa da pandemia da Covid-19. Só que neste caso, o problema não foi apenas a pausa na produção e no comércio, mas também a reflexão sobre prioridades de consumo e a relação com o meio em que vivemos.
De acordo com os dados, a necessidade de mudança já era urgente bem antes da pandemia. Números da ONU mostram o quanto a indústria da moda prejudica o meio ambiente. Ela sozinha produz anualmente 10% das emissões globais de dióxido de carbono, e usa cerca de um trilhão e meio de litros de água. Além disso, 85% de todos os têxteis vão para o lixão a cada ano. E lavar alguns tipos de roupas envia milhares de pedaços de plástico ao oceano. É um impacto ambiental gigantesco, especialmente se levarmos em consideração as marcas “fast fashion” que chegavam a lançar até 24 coleções em um único ano.
Paralelo a esta produção desenfreada, já havia um movimento emergente que tratava do anti-excesso no consumo, e foi a parada da pandemia que fez esta tendência se acelerar. Hoje os consumidores que querem atitudes mais éticas e ambientalmente responsáveis das marcas, impulsionam o reposicionamento do mercado que buscam o conceito de “slow fashion“, com peças bem mais duradouras e sustentáveis.
Desde o novo conceito chamado “unsubscribed“, lançado em junho deste ano pela American Eagle Outfitters, que tem como proposta oferecer produtos feitos de forma consciente e para serem usados “para sempre”. Passando pela decisão de marcas de luxo como a Gucci, que além de ter diminuído de cinco para duas coleções por ano, lançou também a “Gucci Circular Lines“, coleção que usa materiais reciclados, orgânicos, de base biológica e de origem sustentável. Chegando até as marcas Michael Kors e Saint Laurent que diminuíram o número de coleções anuais e decidiram fazer seus próprios calendários, sem necessariamente participarem dos grandes eventos de moda. Ou seja, as grandes semanas de moda podem não ser mais tão grandiosas assim!
Uma outra inovação é a fabricação industrial sob-demanda. A empresa americana OnPoint Manufacturing utiliza automação, integração com computador e a personalização para fazer as roupas encomendadas por designers de moda e estilistas. Com este modelo sob-demanda, só são produzidas as peças que estão realmente vendidas.
Em um âmbito mais educacional, a agência de criação escocesa ArkDeFo está procurando educar a geração mais jovem sobre os valores e a ética na moda. Semana passada, a agência lançou um curso online de “Slow Fashion” para ensinar crianças entre 8 e 14 anos a se conectarem com artesanato e apreciarem roupas artesanais.
Existe um número crescente de consumidores, especialmente na Geração Z, realmente preocupados com a sustentabilidade. Foi apoiada nesse conceito que a startup inglesa Depop surgiu. Ela traz peças de marcas famosas, mas também de criadores independentes, e quer deixar este mercado mais inclusivo e menos dispendioso. Além disso, há marcas brasileiras que já surgiram com o conceito slow fashion, é o caso da Sim Store e da Iral, que se propõem a produzir peças mais duradouras. Uma outra vertente que está sendo impulsionada por este consumidor é o mercado de segunda mão, a volta dos brechós! Em Maceió, existem movimentos sazonais de brechós, e só bem recentemente é que está surgindo propostas mais estruturadas com conceito de curadoria de peças, que é o caso do Limonada Vintage Brechó, que tem perfil no Instagram e cheio de peças bem interessantes. Vale a pena dar uma conferida!