Com a chegada do final do ano, a mudança de estação traz a expectativa de um verão ainda mais quente. Especialistas indicam que as temperaturas, já elevadas, continuarão a subir. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, 2023 foi o ano mais quente já registrado, com um aumento médio de 1,45°C na temperatura global. Esse dado é alarmante, pois nos aproxima do limite crítico estabelecido pelo Acordo de Paris.
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Essas alterações climáticas não afetam apenas o conforto térmico, mas também representam riscos à saúde, principalmente durante as ondas de calor. Nas cidades, os efeitos das chamadas ilhas de calor urbanas são ainda mais intensos. Por isso, várias iniciativas de resfriamento urbano têm sido implementadas ao redor do mundo para mitigar esses impactos.
Um primeiro exemplo que eu trago nesse sentido é Madri, que está testando um novo tipo de abrigo para pontos de ônibus. Além de fornecer sombra, o abrigo chamado Natural Cooling é capaz de reduzir a temperatura do ar ambiente. Desenvolvido e patenteado pela JCDecaux, essas unidades não utilizam sistemas de ar condicionado de alto consumo energético. Em vez disso, empregam uma técnica tradicional: o resfriamento evaporativo. Nesse processo, a água, ao evaporar, absorve o calor do ambiente, resfriando o ar ao redor de maneira eficiente e sustentável.
Já Cingapura, na Ásia, destaca-se por integrar vegetação urbana com tecnologia. Os telhados verdes são obrigatórios em muitos edifícios, e os jardins verticais, como os icônicos Gardens by the Bay, ajudam a resfriar o ambiente, aumentar a biodiversidade e melhorar a qualidade de vida.
Em Phoenix, nos Estados Unidos, tecnologias de pavimentação reflexiva estão sendo testadas para reduzir o calor nas ruas. Os materiais utilizados refletem mais a luz solar, diminuindo as temperaturas da superfície em até 10°C, o que beneficia também os bairros ao redor.
Paris transformou áreas de recreação escolar em “ilhas de frescor”, adicionando árvores, pavimentos permeáveis e materiais reflexivos. Esses espaços servem como refúgios climáticos para a comunidade durante ondas de calor.
Melbourne, na Austrália, investe no plantio massivo de árvores para reduzir a temperatura urbana em até 4°C até 2030. O programa envolve a substituição de árvores envelhecidas e a introdução de espécies mais resistentes às mudanças climáticas.
Em Doha, no Catar, áreas públicas foram equipadas com sistemas de resfriamento ao ar livre, incluindo ventiladores e nebulizadores. Esses projetos fazem parte de um esforço mais amplo para adaptar a cidade a condições climáticas extremas.
As superquadras de Barcelona, na Espanha, reorganizam o tráfego, priorizando pedestres e ciclistas. Essa estratégia reduz a poluição do ar, melhora a circulação de ventos e aumenta os espaços verdes, contribuindo para o resfriamento da cidade.
Em Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia, um programa reconhecidos é a criação de corredores verdes, iniciado em 2016 para combater a poluição e o calor. Com mais de 30 corredores verdes, o programa conecta áreas arborizadas, jardins verticais, riachos e parques, resultando em 70 hectares de área verde e 20 km de rotas sombreadas com ciclovias e caminhos para pedestres. Nos primeiros três anos, as temperaturas caíram 2°C e a qualidade do ar melhorou, trazendo vida selvagem de volta. E podemos ver essa iniciativa aqui no Brasil. Em 2023, São Paulo iniciou um Corredor Verde no Butantã.
Todas essas iniciativas mostram que o planejamento urbano, aliado à inovação e à sustentabilidade, é essencial para enfrentar os desafios climáticos atuais e garantir o bem-estar das populações urbanas.
Já falamos aqui sobre as chamadas “tintas milagrosas”, desenvolvidas para ir além de simplesmente colorir e decorar ambientes. Essas tintas foram projetadas para trazer benefícios relacionados ao consumo consciente, ao bem-estar e à preservação do meio ambiente.
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Seguindo essa mesma linha, Los Angeles implementou um programa de resfriamento de pavimentos, no qual ruas foram pintadas com materiais de alta refletância para reduzir a absorção de calor. Em algumas áreas, essa iniciativa conseguiu diminuir a temperatura do asfalto em até 6°C.
Esses exemplos ilustram como o planejamento urbano, a tecnologia e a vegetação podem ser combinados para criar ambientes urbanos mais habitáveis e resilientes às mudanças climáticas. As soluções variam desde opções de baixo custo, como telhados verdes, até iniciativas mais complexas, como redes de pavimentação reflexiva e sistemas integrados de resfriamento.
O resfriamento urbano é uma abordagem multidisciplinar que exige a colaboração entre governos, urbanistas, cientistas e a comunidade. Cidades que investem nessas estratégias não apenas combatem os impactos do calor, mas também promovem maior qualidade de vida e aumentam sua resiliência frente às mudanças climáticas.