A Covid-19 transformou bastante a forma de consumir e de viver das pessoas. Tendências foram aceleradas e os que não estavam alinhados com elas, precisaram correr para se adaptar a este novo tempo. A jornada do consumidor migrou do offline para o on-line por um bom período de tempo, e os números já mostram que esse modelo veio para ficar. Mas como a pandemia impactou mercado publicitário, que já vinha se mudando muito com a digitalização? Para entender mais, a Mescla conversou com o Diretor executivo da Chama Publicidade e presidente da ABAP/AL em três gestões, Herman Fernandes.
“O desafio em termos estratégicos é passar a pensar o cliente como um todo. A ideia, ponto de partida do nosso trabalho, ela precisa ter força para ganhar capilaridade seja no offline, seja no mundo digital.”
Herman Fernandes
1- Com a pandemia, os hábitos de consumo das pessoas mudaram muito. E na publicidade, o que mudou?
Sem dúvida, a pandemia deu um freio de “desarrumação” em muitas coisas e acelerou processos que eram apontados como tendência e que, de repente, ganharam velocidade. Isso é fato. Mas também é fato que o comportamento humano tem raízes fortes e nem sempre as mudanças repentinas se consolidam. Acredito que muitas coisas voltarão a ser como antes, outras não.
Diante disso, a publicidade também viu algumas tendências serem aceleradas. O home office, as reuniões remotas, um olhar mais profundo para o negócio do cliente pois foi preciso mergulhar mais a fundo para encontrar soluções de comunicação quando lojas fecharam, estandes de vendas fecharam, eventos não puderam ser realizados presencialmente. Algumas dessas soluções vão ficar: eventos on-line de apresentação de produtos, marketplaces mais funcionais e o foco mais global nas empresas que atendemos. Outras coisas devem encontrar um meio termo: home office tende a ser híbrido, reuniões presenciais de criação fazem muita falta e momentos de interação das equipes também. Somos seres sociais e nos alimentamos e crescemos com as relações interpessoais.
“Estamos em meio a um freio de ‘desarrumação’, algumas coisas voltarão ao lugar, outras não”.
2- Como capturar a atenção do consumidor em um mundo tão repleto de estímulos externos, qual a dica que você daria.
Tem uma frase que ouvi de uma amiga, a Bel Alvi, que diz o seguinte: “mídia é cerco”. Ou seja: o grande desafio para as marcas é se fazer presente na vida das pessoas que fazem parte do seu público-alvo. Para que isso aconteça, é preciso cercar essas pessoas. Daí nasce o conceito de Cross-media, que permite o uso de vários veículos e ferramentas de comunicação para cercar esse prospect ou cliente e aproximá-lo cada vez mais das marcas que querem fazer parte da vida dele. Sou adepto do que chamo do marketing UMPC (Um Monte de Pequenas Coisas).
“Sou adepto do que chamo do marketing UMPC (Um Monte de Pequenas Coisas)”.
3- Como a publicidade se reinventa no mundo digital, quando grande parte das verbas das marcas acabam se direcionando a influencers? Aliás, as agências de publicidade conseguem sentir essa mudança?
Sim, as agências sentem essa mudança. O desafio em termos estratégicos é passar a pensar o cliente como um todo. A ideia, ponto de partida do nosso trabalho, ela precisa ter força para ganhar capilaridade seja no offline, seja no mundo digital. Cada campanha, cada produto, cada cliente tem necessidades e objetivos específicos e precisamos saber determinar qual o melhor caminho a seguir. No centro de tudo está a MARCA/CLIENTE. Sendo mais específico, nem toda marca casa com todo influencer. É o mesmo desafio de se escolher um garoto-propaganda. Precisa ter sinergia, interação e verdade na comunicação.
“Algumas dessas soluções vão ficar: eventos on-line de apresentação de produtos, marketplaces mais funcionais e o foco mais global nas empresas que atendemos”.
4- Estamos em um mundo muito complexo, difuso. Para o empresário que está no mercado e já percebe essas mudanças, que conselho você daria para ele se reinventar (se encontrar com essa realidade nova)?
Não existe comunicação de sucesso duradouro sem VERDADE. O primeiro passo para o empresário é conhecer a fundo a empresa que tem, suas forças e fraquezas. E a partir daí encontrar um discurso verdadeiro com o mercado e confortável para ele enquanto anunciante. A relação das marcas com as pessoas só se perpetua com transparência. O cliente precisa saber o que busca e as marcas/empresas precisam ter clareza daquilo que podem entregar e oferecer. Isso tem a ver com posicionamento de mercado. Em momentos desafiadores como o que vivemos, vi marcas que buscaram soluções voltando às origens, voltando a fazer o que deixaram para trás, muitas vezes recuando para fazer bem feito aquilo que realmente sabem fazer. Como falei no início do nosso bate-papo: estamos em meio a um freio de “desarrumação”, algumas coisas voltarão ao lugar, outras não.